sábado, fevereiro 16, 2008

O Artista Inconfessável ( Eu e João Cabral)

(Aqui, faço uma reflexão me amparando no belo poema, começando a falar sobre o meu blog para pensar em algo maior, de repercussão)


Vai aí, no poema, o meu sentimento em relação a este blog.

O ARTISTA INCONFESSÁVEL

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.

(João Cabral de Melo Neto - Museu de Tudo)

Eu gostaria de colocar photos, enfeitar o blog, deixá-lo mais agradável, mas não consigo, eu perco muito tempo com isto. Tempo que para mim, no momento, é precioso.
Eu acredito nos meus textos! Não digo que são brilhantes, que faço análises ótimas, mas eu até que escrevo bem, apesar de algumas idéias se encontrarem dentro de outras e estas dentro de mais outras, e eu vou puxando-as, meus textos são interessantes, tem tempero. Enfim, é duro dizer de mim e eu me elogiar, mas é com este leitor ninguém que eu dialogo.

De todo, faço o blog sabendo que é inútil, para nunca esquecer, e tomo muito cuidado porque eu me imagino me expondo para 1.000.000.00... de pessoas. Penso na minha profissão, na minha pessoa e consigo ser assim, mais eu (expressão vazia - mas decerto seja isto - eu me esvazio diante da certeza, da escrita e me preencho diante de novas formulações, caminhos da releitura de meus textos).
Sei que os tempos são pós-modernos e há uma cegueira geral, uma confusão, uma diluição de referências, e as pessoas se agarram a pedaços de barco que se rompeu, ilhados. Já enviei quatro, cinco textos entre contos, roteiros, poesias e ninguém me respondeu a não ser dois dos amigos meus dos cinquenta que enviei. As pessoas com quem convivo, nem sequer um comentário. Não leram. E eu não me admiro muito com isto pois, eu tenho dificuldade também de ler "textos grandes" na internet ( mas, textos dos amigos eu faço questão de ler, apesar de não receber). O que está acontecendo ? As pessoas não lêem nem os textos dos amigos...

Só mais um comentário: para mim João Cabral é o melhor poeta brasileiro e dos melhores do mundo. Não se ocupem com a palavra melhor e sim com a João.
Me perdoem os que acham que o maior é Drummond. Não entendo quando li numa revista que o Brasil (decerto, intelectuais, escritores) elegeu Drummond como o maior. Creio que em técnica João Cabral não fica atrás (mesmo porque ele é muito técnico). Mas, os poemas do Drummond são tão sem graça! o João Cabral tem fogo, ferro da peixeira, aponta mazelas, mostra a veia calejada por onde o sangue corre, não como o leito de um rio harmônico, mas como o solo de um rio intermitente, encrustrado de sol na terra.
E digo mais: João Cabral não perde para Fernando Pessoa (considerado o maior do mundo). Aqui, não coloco em competição. João Cabral traz muito a bela metáfora, embriagante, dilacerante do olhar Realidade, sendo assim, alucinante, porque a Realidade é a loucura e a Fantasia é a fuga, ilusão e normalidade dos sentidos. E mediante a isto, creio que João não é visto pelos cidadãos - cultos - brasileiros porque a colônia continua a enxergar Portugal, Inglaterra, Estados Unidos. Temos um Pessoa aqui no Brasil chamado João Cabral de Melo Neto, um Severino para o leitor ninguém!


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4 comentários:

Unknown disse...

Oi Henrique.
Que bom que te encontrei no orkut... que bom comecar a ler suas palavras... nao estais sozinho.... eu leio hehe
Pra mim foi uma descoberta saber que escreves poesias e que estais te abrindo assim ao mundo... Estou adorando..
Abraco
Carla Serafim

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Desemmimmesmado disse...

Oi Carla, legal que vc encontrou este blog: aqui vai um pouco da minha estética, do meu pensar livre, de artista.
esta reclamação em geral, creio que é da pouca arte ou literatura que se faz hoje, entre os amigos.

Carla, Abração, e fique a vontade para blogar na desemmimmesmadamente