quinta-feira, dezembro 20, 2007

Saara Nordestina

SAARA NORDESTINA

Roteiro



Cena Inicial – noite – Câmera grua-

A cam segue o mosquito (nas costas) que vem em direção a um barracão todo de madeira, e entra pelo buraco entre o teto e a parede. Um barracão situado no sertão árido nordestino... O mosquito pousa numa prateleira. O barraco, por dentro, possuí várias engenhocas penduradas nas paredes, tipo, cortador de lata, regador, coisas estranhas, de uso, tudo de material ferro.

Cena 2 – close na Regina ( morena encorpada com 38 anos, sempre andando bem arrumada)- cam pega Regina de outras maneiras

Regina corta com uma faca um pedaço de bolo.
“amanhã será um grande dia... (pausa)”
“serei famosa...(suspiro) famosa na capital”
“Ninguém me segura... a Regina, do Sertão, despontando do buraco para a Civilização”
“Tudo bem que é com a...”
“Samuel, como é que se chama mesmo o invento?”

Samuel ( senhor barbudo e com seus cabelos longos, ambos brancos, um pouco cansado, de seus 64 anos) numa rede, responde:
“Bicicleta, Regina”

Regina, tensiona e exclama em bom tom:
“Porra Samuel, B-I-C-I-C-L-E-T-A!!!” “Não poderia se chamar REGINETE!!”
“Que raios, inaugurarei uma ‘mixa’ de uma bicicleta”
(pausa) “é o que tem né...fazer o que? Se isso daí valesse mais que um cavalo, eu seria mais feliz”

“Samuel, você precisa inventar algo maior”
“ Você só faz abridor de lata, de garrafa, alicate, só coisas pequenas”

(Regina fala sentada, de cabeça baixa, em baixo tom, confidenciando a si mesma, mas para Samuel ouvir)
“Foi o meu maior vexame, quando inaugurei aquele abridor de garrafa com rosquinha...”
“Uh!!!”
“Não sei como me submeti a isto, nunca mais quero pagar este mico”

Samuel terminando de comer o bolo, com prato na mão, se ajeita na rede, numa postura mais ereta:
“É Regina, mas amanhã é coisa grande...vai revolucionar a cidade grande”

Regina, escuta, e mais esperançosa, ansiosa, sonha com sua fama:
“Amanhã de manhã vem a mídia, a televisão!!!” (pausa)
“Por que você não inventou a televisão, Samuel ?”

Regina corta outro pedaço de bolo e oferece a Carlos ( rapaz de seus 31 anos, cabelo escuro, curto, magro e estatura de 1m70) que estava sentado, ouvindo-os. Oferece outro pedaço a Samuel, mas ele acena que “não”

Regina:
“Samuel, você vai querer beber com a gente lá no bar ? o Carlos veio nos chamar !”

Samuel:
“Regina, Regina, você sabe que eu não bebo... e amanhã será um longo e agitado dia” “Entrevistas, Regina, repórteres!!”

Regina:
“Ah! ... então, nós vamos”


Cena 3 – externa – noite – Regina e Carlos saem do barraco e andam na cidade de barro. Um bar desponta de longe.

Regina e Carlos saem do barraco. E Regina logo puxa a conversa:
“E aí Carlos, eu preciso de uma resposta sua...” “Vamos meu amor!!” “ venha fugir comigo”.

Carlos, mostra indecisão, abaixa a cabeça e pensa numa maneira de se colocar.

Regina:
“Eu preciso tanto de um homem pra me proteger”
“um caralho duro, possante, invadindo a minha xoxota”
“Sentir o seu dedinho abrindo o meu cuzinho e aí...aí meu Deus!!”
“Venha... eu preciso de alguém para me foder todos os dias” “Você vai de cavalo e eu com esta maldita BICICLETA”

Cena 3.1onírica (efeitos de sonhos) – Regina imagina Carlos em cima do cavalo, sorrindo, eles lado-a-lado, ela de bicicleta, de mãos dadas ( o braço de Carlos, bizarramente comprido esticado). Ambos se olhando, apaixonadamente.
Volta Cena 3, Carlos corta:

“Regina...”

Regina:
“fala meu amor, fala” “Vamos ser felizes...sair por aí, pelo mundo”

Carlos:
“Regina, eu preciso te falar uma coisa...” (Regina ao fundo começa a fazer uma cara de estranhada, assustada, seu rosto se deforma mostrando seu medo)

“Eu vou me casar com Rosinha”
“E não é certo, nessa cidade, um homem casado ter uma amante”

-------------------Corte------ ---------------

Cena 4 – Bar externa – na mesa de sinuca
Regina:
“NNNããããããããooooooo!!!!

Regina solta o taco e se joga na mesa de sinuca, deitando o seu rosto, agarrando as bolas para si.

Close no jogador com palito no dente, ao lado de Carlos, vira o pescoço para Carlos e diz:
“Porra, com a Regina é Fóda”

Cena 5 – no meio da Rua – Noite – Regina volta chorando, a passos largos

Regina:
“droga... Droga... droga !!!”
“Que vida!!”
“Carlos não me quer mais, não vai me levar daqui, não quer mais me comer”

“ Deus ........(longa pausa)....... Você nem me vê”
“Me odeia!!”
“Não faz nada para eu sair desta merda de cidadezinha”
“Você vai ver só, vou eu!!!...”

Cena 6 – na frente do barraco, Regina entra – externa/interna -
- interna – Samuel está numa cadeira de balanço, acomodado, lendo um livro.
Regina vai direto para o canto da sala e pega bicicleta. Move o invento e vai em direção a porta.

Samuel, em tom ríspido:
“Aonde você vai, Regina!!!”

Rg grita: “Vou me embora”

Sm: “Volta aqui Regina, você não vai, não !!!”
“Me respeita!!!”

Rg: “Me respeita ?...”
“respeitar o quê... um velho desse que leva ‘um ano’ para levantar o pau!!!...que nem levanta o pau!!”
“Um velho inútil!!!”

Samuel começa a ter ‘falta de ar’:
“Regina!!...”

Rg: “ E toda a cidade sabe que você é um corno, seu velho INÙTIL!!!”

Regina escapa com a bicicleta.

Cena 8 – externa – Rua – noite
Regina saí pedalando desesperadamente... pedala sem harmonia, rapidamente.

Cena 9onírica – close – imagem do Samuel, como se Regina estivesse sonhando.
Samuel coloca as mãos no pescoço, como se estivesse se estrangulando:
“Oh ... Ô...Ô ...”
“CARALHO!!!!” -
Solta a mão do pescoço, caí na cadeira, com sua mão derrubando uma faca da mesa.

Cena 9.1onírica- close na faca – Mão de Samuel a agarra.

Cena 10 - Volta Cena 8 – externa –rua –noite
Aparece um buraco e Regina não desvia, caí, solta um grito.
Espatifada do chão, se levanta gemendo. Ajunta a bicicleta e vê que ela está quebrada. Testa a maquinaria que não anda mais.
Rg Fala baixinho, frustrada:
“Droga, essa... essa porcaria não serviu pra nada...velho inútil”

Volta o caminho carregando a bicicleta

Cena 11 – externo/interno – rua/barraco – Regina entra chorando, passa a bicicleta e abandona a porta aberta.
Regina:
“Samuel, seu velho babaca...”

Rg vê Samuel sentado na sua cadeira de balanço com um furo no peito e a faca ensangüentada no chão.
Ela anda até a frente da cadeira, se agacha e pega a faca, assombrada.

Cena 12 – interna – cam voltado para a porta
Carlos aparece com a cabeça na porta, incomodado, esgueira-se para dentro da casa e assiste Regina com a faca na mão. Dá meia volta, e na ponta dos pés saí da casa, passando a porta, corre.

Cena 13 – interna -
Regina, sem reação, senta na cama ao lado de Samuel (imóvel na cadeira)

Cena 14 – interna- cam voltado para a porta
Carlos chega com 2 policiais e uma multidão vem junto para acompanhar.
Ao avistar Regina, e esta vê Carlos, ele saí da frente dos policiais. Estes percebendo o seu aceno, rapidamente vai de encontro a Regina e a aborda.

Policial 1:
“ a Senhora está presa”

Policial 2 analisa o furo no Samuel. Percebe que ele está morto. Coloca as luvas, a toma de Regina e, fala ao companheiro:
“Já mandamos vir um especialista da capital”
“Amanhã ele estará aqui e poderá fazer o laudo da perícia”

Vira-se para Regina: “enquanto isto, a Senhora aguarda na cadeia”

Regina, atônita, enfraquecida, se deixa levar, e a multidão os cercam e saem todos juntos

Cena 15 – interna – travelling no corredor mostrando o teto – cela – solitária
(Barulho da tranca)
Regina anda um pouco e se senta na cama cinza.

Fica por um tempo Regina sentada. (Cam fixa)

Deita. (Cam por um tempo focando os olhos)

Cena 16 – interna –corredor – Cam fechada no rosto do policial que anda pelo corredor.
Abre cam – Policial abre a cela.

Policial: “ Dona Regina, vamos acordar!!”

Regina se levanta e logo vai em direção da porta. O policial a segue atrás.

Cena 17 – cam escura – somente sons do policial:

“A senhora está solta”
“ O laudo a inocenta” “serão averiguados as possibilidades de um suicídio ou de um crime”

Cena Final – externa – Dia – meio da rua
A Cidade parece uma cidade do far west em dia de duelo. Deserta.

Regina saí da cadeia, toma a rua, cambaleando, tonteada.
No meio da rua, se vira para um lado: vê casas abandonadas (vidraças quebradas, escuro, paredes caídas), vira-se para o outro lado, idem (sem imagens), se vira para frente e olha a Cam (fixa).
Caminha para a frente, olhando para a cam ( em direção a esta), caminha, com o olhar fixo e cansado.
Passa um carro Van da Reportagem correndo na sua frente, e ela despenca ao chão... FIM


sexta-feira, dezembro 14, 2007

a Porta pede padrão

este poema foi pensado em Foucault, e escrito na parede da UFSC no dia da Livre Expressão, dia este reservado para pintar as paredes do CFH. O poema não tem nome e deve ter sido escrito em 2004.

a Porta

a Porta pede padrão
para o Piá poder.
- Para Piá você entrar
é preciso 'não-piar'.

Entra encontrando seu canto
Sem encanto entristece
E tece sua tez ao outro
- Num tácito trampo de porco !

Aos poucos morre um tanto
seguindo Santo...voando acima.
As leis seguram-no ao teto
sua Casa de louco Assassina.

Super-Homem

mais um poema meu, escrito em Foz do Iguazu, ciudad mezclada com o jeito brasileiro. vale a pena conhecer lá e passa por Ciudad del este (Paraguay) y Nueva Iguaçu ( Argentina), uma cidade colada a outra, 2004.

Poema expressa no asfalto quente de Foz de Iguazu, num barzinho, tomando cerveja Conti. Que saudades!!!


Super-Homem

Só, ninguém viu.
Olhou o céu e sonhou
(imperfeição, vazio),
Ao redor vislumbrou:
O poder que emerge da cidade
Deus é a humanidade !

E sua ética figurada
Não foi sequer arranhada.
Comovido, se libertou:
"Posso fazer mais".
Uniu! seu poder amou.
Dirigiu homens, guerra e paz.

sábado, dezembro 01, 2007

Trago Dois Poemas meus ( cont...)

O primeiro poema revela uma foto da estética dionísiaca, escrita por Nietzsche. Este segundo poema, revela a estética apolínea, também muito singular a Nietzsche.

VERSOS

Que maravilha são os versos !
Às crianças devem educar,
Da poesia fazer-se servos,
A vida a viver e a melhorar.

Mas, do verso que traz o amor,
Traz também o gume afiado
Que talha na alma, a flor,
Ao Fim cru, dolorido e cansado.

Nos versos não há valor.
Os versos trazem a natureza
Das cantigas de beleza e de dor,
Do ser que aguça, outro reza.

Uma essência do verso é cantar,
E viver alto para o espirito,
Como a harmonia crua do mar,
Ou na catarse humana do rito.

Voltemos, Ó seres da sorte, ao verso !
Traga cor e movimento ao lar!
Enfeite a cidade em seu inverso,
Talhando co' mercantil, jogo de azar.

Que maravilha são os versos !


Podemos ver alguns aspectos principais que traz a marca apolínea. Primeiro, se trata de uma poesia que traz contribuição ao grego, a favor de um melhoramento, pois trata da educação pela poesia, ensinando que nela não há o valor ( do bem e do mal distintamente). Deste modo, é uma poesia nobre, poesia grega. Fazer-se servos da poesia indica uma servidão diferente da que com Deus, ou outro Pai qualquer. O compromisso é com a arte, que é humana. Ao fim cru, dolorido e cansado indica algo que Nietzsche salientou, que a poesia de Homero se deu sob a aparência (apolínea) da incorporação da natureza e suas forças (os Titãs, concepção pré-olímpica) pela arte e seus sentidos, dando um lugar a Dionísio ( que é a força, a licensiodade sexual, as festas sexuais, a unidade com a terra, sua desindividualização) no hegemônico mundo apolíneo, que tinha pavor, medo da morte, desta desindividualização. Com a poesia de Homero, dado por esta aparência, se perdeu a Era dos Titãs, a era heróica, dando um lugar as lamentações que é a própria condição da não-potência frente a natureza. Eu vejo que Nietzsche traz muito do contexto moderno que ele viveu para esta leitura, pois o que ele fez foi uma genealogia da arte grega, como se embrenhou na condição grega. No prefácio do livro ele é muito criticado, pois seu ponto de vista se mistura com seu objeto de estudo, não que seja um problema, mas perde um pouco da validade, mas não o deixa de ser intrigante e um material muito bom e rico para se trabalhar. Estou concordando com isto.
Voltando ao poema, Os versos trazem a natureza, indica esta imitação da natureza e controle dela, nada mais apolíneo.
Vejam:

Uma essência do verso é cantar,
E viver alto para o espirito,
Como a harmonia crua do mar,
Ou na catarse humana do rito.

Aqui mostra a atitude grega com a arte, elevando-a a um bem comum, de todos, elevando –a aos Deuses, criados pela imaginação grega para superar a existência de seu mal-estar, e dando um sentido humano às divindades que possibilitassem agora deles agirem conforme a estética/ética humana. O dever com os Deuses (espelho dos humanos) é o dever com os humanos, o liberando de viver uma vida rica, artística, humana, num separação/superação da natureza, da força dos Titãs. Esta separação se dá pelo pavor (da força sexual dionísica onde o corpo se perde na unidade). Vale lembrar que o Deus Dionísio (que é diferente desta força dionisíaca bárbara) é o Deus das Festas, do Teatro. Acho que é neste lugar que Nietzsche chama a atenção. O mundo apolíneo seqüestraria esta força, dando um lugar a Dionísio como a força dos Titãs (acho eu). Esta estrofe mostra que o apolíneo venceu, captando para os sentidos a força da natureza. Diminuindo sua força. Igualar o espírito com a força do mar, acredito eu que é colocar na cena esta força da natureza, na imaginação, nada mais apolíneo.

Dá para perceber a diferença dos dois poemas. Um se volta na força dos instintos, com o foco mais na potência dos membros, dos músculos, do enfrentamento, do animal e outro se faz na possibilidade da catarse na arte, na poesia, na música.
E realmente, eu estava vivendo poesia nesta época. Eu morava na praia, pedalava, e na universidade, o nosso grupo, fazía muita arte. Muitos estavam vivendo nela, lembro do Poeta Cesinha que era referência dos movimentos, do músico Iê, que andava pela universidade tocando sua flauta e tocando pandeiro, das danças femininas das mulheres, a Laila, a Fernanda (começando o Arrasta Ilha), a Bicicletada, o pessoal das ciências sociais, Bené, Leozão, Japa, O Luciano Índio da filosofia, amigão, estava em todas, do Ninno e sua risada que estremecia a caretice do movimento estudantil pró-revolução russa, da galera da Rádio de Tróia vendendo cerveja sem copo descartável, cada um trazia sua caneca; estávamos todos incluídos em todos estes movimentos. O ambiente era o Bosque do CFH, no teatro de arena. Uns faziam malabares, outros batiam uma bolinha. O ambiente era limpo e transparente como uma festa Apolínea. E era mágico, era muito gostoso, eu tinha uma alegria imensa. Apresentei estes versos, foi o primeiro lugar que apresentei. Acho que nem eu valorizei tanto, apesar de que sabia que havia riqueza nele. Que saudade, que tempo!! Esse nosso grupo teve coesão no DCE 2001, onde era uma esperança de fazer política estudantil. Mas, os frutos doces, vermelhinhos, só se deram depois, com a proposta do fazer sem instituição e congregou a todos, num movimento muito bonito e orgânico, vivo ainda hoje. Então não falo do passado, e sim de agora.

Vejam que, apolíneo, dionisíaco, vai para além do bem e do mal, não se enganem com teorias ortodoxas, onde o domínio da natureza é ruim e que o fera é ser animal, natural. Nada mais apolíneo que isto. E nem, que a nossa energia esta na sublimação cultural, da arte. Nada mais europeu, sem o sangue efervescente do chão latino-americano. Nem que a verdade, as respostas estão na lógica e o catarse está no rito. Nada mais cindido que isto!! Leiam “A Origem da Tragédia” e verão um belo ensaio que traduz muito do que passamos agora na (pós) modernidade. Não basta eu colocar aqui, o que é Dionísio e o que é Apolo (Deus da Forma, da Arte, da Guerra). Dionísio é esta força das entranhas, a perdição de si no prazer, o caos, vinculado a terra. Outro livro ótimo é da Camile Paglia “Personas Sexuais: de Nerfetite a Emily Dickson”.

Quis mostrar um pouco o contexto em que estava com o valor da poesia e dizer que ambas remete a estética de que Nietzsche refletiu dos gregos.

Arrevoá-aaa Baco!!!!

Trago Dois Poemas Meus

Trago dois poemas. O primeiro eu fiz na Argentina na ciudad Necochea, onde eu e meu amigo Rafael fizemos uma viagem barata, pegando carona, trem de 4a classe, ônibus e muito chinelo na estrada.
´Star no mundo e fazer poesia, interagir com pessoas que vivem na malandragem do mundo, Argentinos, Bolivianos, Paraguaios que trabalham "camelando" (os camelôs). Ficamos numa pensão onde pagávamos 12 pesos (12 reais) pra duas pessoas, num lugar surreal pra minha realidade sócio-econômica, quartos sem portas ( só com lençol na porta), panelas amontoadas no corredor, muita gente gritando, porta batendo, e nós fizemos a nossa também. Tomamos un trago, fizemos amizade com um cafetão de boludo ( que disse que mandava na rua e era pra gente ficar sossegado), jogamos xadrez a noite toda, chegamos enborrachados.
No trem, um arranjou confusão com a gente, chamamos pra porrada, ameaçaram jogar nossas coisas pela janela enquanto durmíamos ( viagem a Mar del Plata, das 23h-7h) na 4a classe, numa condição horrível (com poltrona de coletivo, onde o apoio terminava nas espáduas), dissemos que nós quebraríamos eles com "conhece jiu-jitsu? te mato em 5 segundos". Nem tenho jiu jitsu, só sei dar o mata-leão. Dormimos no chão do trem, da rodoviária onde conhecemos um guerrilheiro para-militar, que faz o trabalho sujo pro governo, idéias fascistas. O cara era simples, estava indo para B.Aires trabalhar de pedreiro numa obra, e contou mil história das anti-guerrilhas contra as FARCs. Artesões gringos tocando berimbaú e cantando a capoeira com sotaque rústico castellano. Dormimos na casa de um cara que não tinha 90 centavos para comprar um leite para a pequena Catarina, su hijita ( La Cata, ele a chamava). Sua mulher continuava no tráfico, durmimos na casa abandonada dele onde não tinha nada, nada de nada, pior, uma cama sem colchão, prateleiras sem nada, fogão sem gás, geladeira só com uma garrafa de água. Ainda a água da descarga vazou quando o Rafael puxou. Ele limpou. O chão não era imundo porque não havia casa, era todo empoeirado, areia. Nós pagamos o leite pra ele, era tudo o que tínhamos na hora. Chegamos numa cidade vizinha a Necochea, Quequén, a meia noite, andamos muito pra achar um camping que alguém tinha recomendado na rodoviária ( ah, lembro que assistimos um pouco de futebol na Tv, River e Racing, quando chegamos). E chegando neste camping ( colônia de férias para crianças),que era muito caro, pedimos pra ficar. O guarda não deixou e chegou a dona, muito relutantemente, seu coração amoleceu, se certificou que não haveria chegada de crianças na manhã seguinte e deixou com a condição que dormíssemos na cabana do índio ( para que seus hóspedes não nos vissem). Assim feito, noutro dia, chegou uma criançada e fomos acordados com os gritos deles. Gostei demais!! muito bom ser acordado com esta energia. E eles abriram a lona da porta da cabana para brincar e gritaram: " Una carpa (barraca), hay una carpa aquí dientro!!" e todos vieram ver, e gritavam, o que apareceu de rostos sorridentes na porta. O Rafael saiu num pulo, batendo a mão na boca e imitando índio, eles sairam aos gritos curtindo a onda. Eu tinha escondido num cantinho do camping minha toalha molhada, estendida para secar, e levaram a toalha, fiquei sem toalha. Conversamos com um niño llamado Emiliano, enquanto desarmávamos a barraca, perguntamos a ele se conhecia seu xará, Emiliano Zapata, falamos um pouquinho deste revolucionário mexicano. Enfim, são tantas belas histórias ( acho que nunca esquecerei desta viagem!!!).
´Star no mundo e fazer poesia, em meio a este chão, quente, latino-americano (que nós brasileiros conhecemos tão pouco ou quase nada, não nos vínculamos aos nossos. Queremos o que é americano e europeu, e achamos que o que é latino é pobre. Achamos isto sem conhecer. Assistimos televisão e achamos isto. É rico, camaradas, de afetividade, de alegria e solidariedade e tantos outros valores).
Em Necochea, a quase 2 horas do centro da cidade, andávamos todos os dias pra pegar uma festa, comprar coisas, sabonetinho de 0,70 pesos, que também era o sabão de roupa, estava eu na paz do camping, com banhos de mar e escrevi estes versos:


Humano Demasiadamente Desumano

Quando sentimos fome,
Comemos.
E, pulamos as escadas
Às mãos espalmadas,
E boca salivando.

Quando sentimos frio,
Nos abrigamos.
E, escolhemos o cobertor
À ira de quem ficou
Sem chance de escolher.

Quando sentimos frio,
Queremos comer.

A necessidade é sirene de polícia
Ao corpo que caça sem desmedida,
E faz de sua autoridade
Brutal ação descontida.
Humano.

Olho para o lado,
Buscando para trás,
A verossimilhança
De inteligentes animais.
E, são livres como são,
O corpo não os livra da pulsão,
A força faz. Demasiadamente.

E, sigo sem escolher,
Colhendo o que vejo,
Sem dar valor ao coração.
Pois, não há só neste ser,
Víscera, igual para crer,
Que não se contenta à lasca de pão.
Não pensamos mais, seguimos.
Desumano.


Reflexão: Este poema me parece que traz muito o valor das coisas que Nietzsche traz em seu livro "A Origem da Tragédia". No livro, ele descreve como seu deu a relação dionísica grega e bárbara para os costumes gregos, descrito nos poemas de Homero e outras artes. Na verdade, aventa como que os gregos souberam capturar Dionisio para continuar na condição apolínea, da razão, da lógica, incorporado no prazer pelos sentidos, a catarse pela visão e outros sentidos ( eu estou na página 36 de152). Creio que este meu poema e seu contexto traduz a poesia dionísiaca ( sem a pretensão de ser dionísiaca) e o valor artístico nobre que Nietzsche sugere, com a demolição dos valores cristãos. Na segunda parte, falo mais um pouquinho.


(Lembro que no banheiro deste camping, havia 4 chuveiros separados, eu cantei "Carinhoso" de Pixinguinha, adaptando ao castellano e um cara se amarrou, toda hora lembrava da música, fizemos amizade, ele e sua mulher compartilharam suas frutas, seu chimarrão com a gente, contaram sobre a patagônia).

segunda-feira, junho 11, 2007

CÓDIGO PARA O INFERNO

Chegando cansado na Porto Alegre chuvosa, depois de passar por momentos intensos no Congresso de Psicoterapia Corporal em Curitiba, eu resolvo pegar um taxi. Eram 6 horas da matina. O taxista chega. "bairro Bom Fim, por favor" - digo. Ele, um senhor exausto, com cara de poucos amigos, liga o rádio, e no volume alto, ouço:

"Código Para o Inferno"
Rátátátátátátátá ( barulho de metralhadora)
Um filme de Charles Bronson!!!
Um homem que deseja vingar a morte de ... , resolve desmantelar uma quadrilha ... , - foi assim que eu ouvi, meio fragmentado, confuso, mediante a situação nova e caótica. Pensei comigo, enquanto que o meu amigo taxista começava a apressar o pé no acelerador: Pronto! está aí um convite ao inferno!!

"Continental!!!!" (nome da rádio).

O L'amour (pã pã rã pã - num ritmo mais acelerado que a do Erasure)
O l'amour now I'm aching for you
Mon amour what's a boy in love supposed to do


Aí pensei comigo: Caralho, essa música é das antiga!!


Looking for you you were looking for me
Always reaching for you you were too blind to see
Oh love of my heart why leave me alone
I'm falling apart no good on my own


(Nossa, eu dançava essa música nas festinhas) e a energia subiu!!!

O l'amour ( pã pã rã pã) broke my heart now I'm aching for you
Mon amour what's a boy in love supposed to do


"Aí!! Pisa no acelerador meu Chapa!!! Aumenta esse som. Tá du caralho!!!
Brrrãããããã~mmmmmmmmm!!!!!!
IIIIIaaaaaaúúúúúúúú´!!!!!
Mãos ao alto, tronco e quadril balançando, cabeça se soltando...


WHY THROW IT AWAY WHY WALK OUT ON ME
I JUST LIVE FOR THE DAY FOR THE WAY IT SHOULD BE
THERE ONCE WAS A TIME HAD YOU HEAR BY MY SIDE
SAID I WASN'T YOUR KIND ONLY HEAR FOR THE RIDE


O L'AMOUR ( PÃ PÃ RÃ PÃ) BROKE MY HEART NOW I'M ACHING FOR YOU
MON AMOUR WHAT'S A BOY IN LOVE SUPPOSED TO DO


Porra!! altas discoteca!!
Pensei: Viva o Inferno!!

No emotional ties don't remember my name
I lay down and die I'm only to blame
Oh love of my heart it's up to you now
You tear me apart I hurt inside out


O l'amour ( pã pã rã pã) broke my heart now I'm aching for you
Mon amour what's a boy in love supposed to do

Aí ele entrou numa rua errada, mas próximo de casa, falei: Ô mestre, aqui tá bom, vou andando um pouquinho. Paguei a corrida, e segui no silêncio chuvoso e calmo De Porto Alegre com seu asfalto preto, sua luz dos postes e sua noite escura, serena e acordando para mudar o tom.


É, vivamos os momentos que temos para viver!!!
.

sábado, abril 28, 2007

Wando - Meu Iaiá, meu Ioió -


Realizei um sonho: Assistir o show do meu guru estético Wando. Eu que inaugurei o movimento bagaceiro ( mas não registrei), encontro na figura de Wando, o expoente da arte brega. O que é o brega? É a forma de mostrar a todos, o lado romântico (que todos têm) com todas as suas fantasias e poesias na idealização da mulher amada. Sem a pretensão de ser erudito e nem piegas, o brega de Wando é a sedução que parece ser ingênua, mas é de um carisma velado, inteligente, na busca da brincadeira sacana e respeitosa, colocando a mulher ao mesmo tempo no altar e, no ardente desejo da carne, que brinca com Ela e se controla buscando sempre o momento do nirvana, do ideal, do êxtase.
Ontem, calcinhas de rendinhas, de borboletinhas, jogadas de suas fãs fizeram parte do kitsch juntamente com a maçã do pecado e a rosa tão bem cuidada. A maçã é a personificação da mulher, onde a gente ajeita-a, alisa-a, esfrega-a, para dar aquele brilho, esfrega-a mais para deixa-la bem quentinha e depois, dá-lhe uma dentada com gosto de quero mais.
Muitas calcinhas distribuídas, muitas conversas. No palco estiveram Elke Maravilha, como mestre de cerimônias e Rita Ribeiro (cantora maravilhosa), pelo projeto Bossa B do Centro Cultural Banco do Brasil ( com dinheiro das taxas que cobram da gente). Elke é uma graça, ela e Wando contaram causos do tempo do Chacrinha. Dizia a Elke, que quando Wando apareceu no Chacrinha até a sua periquitinha bateu palminha ( calma! Não me entendam mal, é o passarinho, danadinho).
Wando cantou muitas músicas do baú, mostrou suas raízes de mineirinho ( o come quieto! Na mesa, caladinho). E, ao final, “Você é luz, é raio estrela e luar... me suja de carmim, leva à boca o mel...você é fogo e eu sou paixão”. Era o sonho concretizado: cantar “ meu iaiá, meu ioió” com o Wando, muito legal!!! Cara, eu me soltei, pensei: “quê!, se eu estou aqui, vamos tocar o terror!!”, me soltei dancei, bailei com os braços pro alto. Foi muito legalce.
Por que todos temos este lado? Por que não admitimos este lado? Creio que nós admitimos sim, mas ainda muito veladamente. Wando e outros artistas anteriores e posteriores criaram um conceito: o brega, com muita originalidade, coragem e luta, animando (dando alma) á uma característica humana: a possibilidade do abandono, da traição, o continente da dor de cotovelo. Quem nunca sentiu esta dorzinha no côtoco? Mas, nosso lado brega está muito associado ao ridículo, ao baixo, seus inúmeros preconceitos. O que acontece é que as pessoas não se deixam cair. É isso mesmo, Cair!, a nossa cultura é a do “tudo bem”. Não podemos estravazar a fraqueza, temos que sempre estarmos fortes. Acontece que dessa forma, ficamos sempre em estado de tensão, e pouco superamos nossas fraquezas pela não aceitação de nosso lado mortal, não-onipotente. Cair faz parte da aceitação de que não podemos tudo, de que somos humanos. O Brega é sadio por isto, por dar o continente, a aceitação de extravazarmos o humano. Deixemos de ser super-heróis!! Viver a queda é essencial para a nossa saúde e percepção de existência e realidade, para dar a volata por cima, saracotiar.
Vivemos mais o lado brega, coloquemos no patamar que merece, o patamar de não ter patamar algum, no mesmo nível, o equilíbrio.O beijo mais gostoso é o beijo brega.
CHORA CORAÇÃO ( 1989- Dor Romântica)
Um amor quando se vai, deixa a marca da paixão
feito cio de uma loba. Feito uivo de um cão,
é feitiço que não sai, dilacera o coração.
É um nó que não desmancha, é viver sem ter razão.
Chora, coração, chora coração,
passarinho na gaiola, feito gente na prisão.
É um jeito de querer é pecado sem perdão,
é espinho que só dói quando põe o pé no chão
É o galho que se dobra sob o corte do facão,
é o mar que sai dos olhos pra banhar a solidão
Chora, coração, chora coração,
passarinho na gaiola, feito gente na prisão.

sexta-feira, março 16, 2007

Aplausos a Rogério Sganzerla











Estou satisfeitíssimo com o filme que acabei de assistir, "Copacabana moun amour", 1970 ( creio eu), do cineasta barriga-verde-carioca Rogério Sganzerla. Recomendo. Falar do filme é fácil, sua essência, mais difícil...para mim impossível.
Comecei a assistir o filme, bastante curioso, já que filmes marginais foram desastrosamente banidos pela simpática e tensa ditadura militar e, deparei-me, logo no início, com um filme de falas desencontradas, personagens sem foco, num estado de loucura pura. Pensei ( eu desacostumado com filmes marginais - nenhum filme marginal que assisti, ainda mais desse brilhante cineasta, foi vão), será que este é um filme descentrado com a pretensão de uma sofisticação? Não, o filme me envolveu, e trouxe uma estética metarealidade extraordinária (explico depois).
Aplausos, porque hoje em dia não encontramos filmes assim, com um teor político-crítico sob a estética dionisíaca, tranvestido de "gente doida", é o meu Brasil!! ninguém entende nada, tá todo mundo chapado!!! Quem não tiver de sapato, não sobe!!! Hoje encontramos filmes de entretenimento, hollywood, enlatado ( feito pela fábrica, formatadinho), ou filmes que "revelam" uma revolução, uma crítica social, que não saí do que é permitido dentro do estabelecido. Claro que há exceções, mas infelizmente a maioria tem um discurso preso a convenções. Este filme, compreende uma linguagem estética revolucionária (no mínimo crítica), com um discurso simples para quem está aberto, entregue, sem racionalismos ou academicismos. É aqui que quero, um pouco, chegar. Ele rompe com uma ordem academicista.
Parece que agora eu entendi aonde que o cinema marginal, numa das figuras ilustre de R.S. quis chegar, quando lançou seu movimento numa crítica ao cinema novo. Primeiro, quero ressaltar, que apesar da crítica (uma dádiva ao cinema nacional), o cinema marginal não se opôs como inimigo, para anular o outro, e sim como irmão, na tentativa de construir uma estética firmemente brasileira, cinematográfica, onde um "supera" o outro.
O cinema novo, na figura de Glauber Rocha, veio para firmar uma estética e uma luta das massas do que seria verdadeiramente brasileiro, ou potencialmente brasileiro. E assim, trouxe um cinema que rompeu com o "americanismo dos EUA" trazendo uma panfletagem revolucionária oriunda das lutas dos movimentos socialistas revolucionários. Para isto, valorizou a massa de trabalhadores do campo e da cidade, valorizando figuras como o cangaceiro ( e sua luta, dentro da contradição da sociedade), o retirante, o negro, o povo, e os valorizando, colocando-o no foco, como herói. Mas a estética é a discursão mais importante: para mostrar a contradição de nossa vida brasileira, a loucura dionisíaca foi a adotada, com muita justiça, mas de forma planfetária.
O cinema marginal tirou esta panfletagem, destituiu o povo de seu heroísmo, e chutou o balde da ordem revolucionária. Este filme, para mim, supera o "O bandido da luz vermelha" de R.S.. Ele é muito parecido com o "A idade da terra" de G. Rocha. Ambos (Copacabana... e a idade...) produzem uma estética dionisíaca. Vejam: enquanto que Glauber contrapõe esta estética com a estética apolínea dos burgueses, dos dominadores/opressores, este filme se firma no dionisíaco sem se preocupar com "qualquer coisa sei lá eu que bixo é este que vocês falam, burgueses, isto é nome de prato de macarrão é?". É dionisíaco, é terra, é entrega, é negro, é o estado de se estar na rua, vivendo, sem compromissos. E, a loucura é a plena auto-gestão da sobrevivência racional-intuitiva e inteligênte. Este é o Brasil!!! Que caretismo é o academicismo, é sério, porcamente, hein!!! "Quem não pode, avacalha!!!" chega de romantismo!!
"Tenho nojo do povo". Ahaha, quem é o povo, você?...é auto-regulação, cada um sabe de si, se sou povo, sou massa, sou a sem-eu.
Canivete, tamancos na estrada: "não sou tarada!! vocês são tarados!!".
É um filme formidável, Viva o cinema marginal de Rogério Sganzerla, pena que esse cara se foi. Pena que não há imortalidade e viviríamos na luxúria!!!! Viva a Galinha Preta, c'a vela e cachaça.

Como numa mesa de bar, podemos ficar aqui falando do filme por tempo, espero que vocês leitores e construtores deste blogg possam assistir e comentar. Sobre a estética metarealidade extraordinária, as palavras falam por si, mas sua sanidade explícita, vulgo loucura, é uma realização da realidade subjetiva fora do comum, onde a fantasia subjetiva se encontra amparada na realidade, ela é real. É como se os instintos e suas perversões, o id, tomassem conta das atitudes dos personagens ainda com o ego segurando de leve suas rédeas.
Outro tema, a colocar, é a atuação dos atores que conseguiram uma desinibição marcante. Foram ótimos . Gostaria de ir adiante, mas encerro para não ficar chato

Este filme passou no Canal Brasil na Sessão Interativa, que consiste em o público votar em um dos três filmes indicados. Não votei, mas queria muito votar neste filme para que ele ganhasse, fico muito feliz que o público o elegeu.

quarta-feira, março 14, 2007

MOJICA e BOCCACCIO, à luz da psicanálise. O que há em comum?

Nada acontece ao acaso? Hoje eu assisti a um filme e estou agora lendo um livro. E ambos dizem a mesma coisa, a séculos de distãncia. Parei de ler para escrever.

O filme O Estranho Mundo de Zé do Caixão, 1967, é composto por 3 curtas-metragens. Um deles, “A Ideologia” conta a história do professor Oäxiac Odéz que vai a TV debater com jornalistas a sua idéia: de que o instinto prevalece sobre a razão. Coloca a “atração” no pólo dos instintos e o “amor” no pólo da razão. Ao final, o entrevistador, em off, duvida das afirmativas do professor e este o convida para conhecer as experiências que confirma a sua tese, “e traga a sua esposa”.
Ao receber sua honrada visita, o professor mostra em seus porões, experiências sádicas-masoquistas, canibalismos, ninfeta ardendo em ácido jogado por dementes, repreendidos por ela e, excitados. Um horror!!! Sob a manifestação dos convidados, o professor os prendem em jaulas separadas por 7 dias, sem comida e água.
No 4º, 5º, 6º dias, ao perguntar sobre quem quer comer, o marido sugere que dê a esposa e ela sugere ao marido. Sobre quem será sacrificado, cada um se auto-sugere.“É a razão vencendo, verá se no 7º dia será assim”.
No 7º dia, a mulher morta de sede, não quer saber de mais nada, “Água!!!”. O professor pergunta: “Quer que eu mate o teu marido?” – “Água, água!!!”. Zé enfia a faca no pescoço dele, jorra sangue e enche um copo e dá a ela, agora solta. Esta bebe tudo, e se joga para o pescoço do marido, insaciavelmente, querendo mais matar a sua sede.

Na belíssima novela de Giovanni Boccaccio, O Decamerão, do século XVIII, na parte antes das novelas, ele apresenta o contexto que é a Peste do século XIV que dizima a cidade de Florença.
Uns se trancam em suas casas se isolando dos enfermos. Outros acreditam que a solução é gozar o máximo da vida, beber imoderadamente, fazer o que der na telha, sacanear os outros com pilhérias. Muitos fugiram da cidade deixando a casa abandonada e ocupadas por enfermos. Vale lembrar que a peste dizima, e médicos, curandeiros, as autoridades não dão a solução porque são múltiplas as soluções e as conclusões. As autoridades largaram o seus ofícios para velar a morte de familiares. O caos se instaura e os bons costumes são esquecidos, “um irmão deixava o outro; o tio deixava o sobrinho; a irmã à irmã; e, freqüentemente, a esposa abandonava o marido. Pais e mães sentiam-se enojados em visitar e prestar ajuda aos filhos, como se o não foram”. “O hábito foi que nenhuma mulher, por mais pudica, bela ou nobre que fosse, se sentia incomodada, por ter a seu serviço, caso adoecesse, um homem, ainda que desconhecido; (...) a ele, sem nenhum pudor, ela mostrava qualquer parte do próprio corpo, do mesmo modo que o exporia a outra mulher, quando a necessidade de sua enfermidade o exigisse”.
Esta é a obra que impulsionou a imoralidade do século XVIII.

NECESSIDADE diante da vida. Este é o alarme que ambos os autores fazem diante da moralidade. A moralidade é um consenso. Mas que consenso é este? Um consenso que esconde parte da vida? Por que a necessidade revela o que escondemos? O que escondemos? É a cultura? Por que não podemos aproximar o natural do cultural? A estética apolínea é para se afastar da morte? Da miséria? Da força da terra? Da natureza?

“Para as mulheres que escaparam com vida, isso foi, quiçá, motivo de deslizes e de desonestidade, no período que se seguiu a peste”
Moralidade, hipocrisia, até onde está encarnado o nosso medo? O poder? A dominação? Até onde temos que manter o status quo? A nossa miséria espiritual?

Necessidade é a defesa, que se torna neurótica, de uma criança quando enfrenta pais alienados dos filhos, autoritários e infelizes. Não é uma acusação! É uma reflexão acerca da sobrevivência física e emocional de uma pessoa cuja lógica não é formal.

Freud deu a pista, em seu livro “Mal da Civilização” colocando que a repressão dos instintos é a repressão sexual, responsável pela construção da civilização pela sublimação da pulsão sexual. A civilização é o que de concreto denota a separação do natural e cultural no ser humano (para parte dos sociólogos).

Tudo!!! Tudo o que estamos falando aqui é de SEXO!!!

Mas Freud, ao colocar que o ser humano tem que passar do princípio do prazer para o princípio da realidade, ele firmou a posição de que o mundo é assim mesmo. De que não podemos com a cultura, com esta cultura.
Reich trouxe a questão de que tudo é princípio de prazer, que somos governados apenas por este princípio e que o princípio de realidade é derivado da do prazer satisfeito. Quanto mais satisfeito, maior serão nossos sentidos para a realidade. Reich descartou o instinto de morte como instinto do animal. Assim, Reich salienta a auto-gestão, como o princípio de realidade satisfeito em suas necessidades.
Para mim, a morte descrita por Mojica da forma como ele coloca é uma neurose. Mas é uma neurose encarada de frente, com todos os seus simbolismos. È um se entregar para o misterioso, que só pode ser um orgasmo intenso, um renascimento, e não como encaramos o orgasmo como a morte, porque não agüentamos tamanha entrega. É o corpo encouraçado.
Encerro estas considerações sobre a moralidade (cultura) e necessidade (instinto), para abrir campos para vocês estarem juntos nestas reflexões.

CHAPLIN e ZÉ do CAIXÂO. O que há de comum?

Quero defender uma impressão original que tive. A de que somente 2 diretores de cinema construíram e viveram tão intensamente os seus personagens e colocando-os uma personalidade e uma filosofia marcante, e com genealidade: são eles Charles Chaplin e José Mojica Marins.


Charles Spencer Chaplin construiu o personagem The Tramp e, com ele, manteve uma integridade incrível. O Vagabundo é vagabundo no filme “O Garoto”, “O Circo”, “Tempos Modernos”, “A Corrida do Ouro”, “Luzes da Cidade”, nos curtas-metragens, em “Luzes da Ribalta”. Até mesmo nos filmes “O Grande Ditador” ele não perdeu o seu traço ao fazer o barbeiro judeu e o soldado, e em “Um Rei em NY”, também me parece que ele começa de baixo para acabar se tornando o milionário. Lembro agora, que a exceção é “Monsier Verdoux”, que também me parece, era um pobretão mascarado de rico. Não sei se Chaplin na vida pública encarnava com tanta intensidade como fez José Mojica com o seu personagem, o agente funerário Zé do Caixão. Mas é certo que a postura nobre e encantadora com que aparecia na vida pública lembra, sem a maquiagem, o nosso nobre vagabundo. E não é projeção minha. Chaplin e The Tramp se confundem nos gestos e sorrisos. Mas, o mais importante é o trabalho do diretor com um “único” e fiel personagem dentro de diversos contextos dos filmes, apresentando obras maravilhosas e geniais. Creio que é isto que encantou o mundo todo.
Buster Keaton, diretor e ator de seus filmes, também vivera seu personagem. O seu personagem não era tão completo que nem os 2 citados aqui. É que Keaton não realizou tantos longas metragens e, parece-me que ficou apagado diante de Chaplin, pois eram contemporâneos.
Woody Allen, também diretor e ator de seus filmes, marca um personagem delineado, na verdade, auto-biográfico, mas que não tem a abrangência de uma filosofia e estética firmes comparado aos 2 citados aqui. E também não me parece que haja uma preocupação em manter a vida de um “único” personagem ao longo dos filmes.

Zé do Caixão ou Mojica ? Quem é quem neste momento ?
A resposta não é simples porque a pergunta não é complexa.
José Mojica, o Coffin Joe, se colocou no mundo com muita coragem, trazendo a sua filosofia Dionisíaca. Sua estética da carne-viva, da terra-voraz dotada de vermes que devoram a ilusão da imortalidade, ele traz luz para os que não enxergam, e melhor, é luz das Trevas !!
Num mundo apolíneo, vence os feios, os mancos, os diferentes, os que vivem a vida, com prazer e dor, ciente da sua força, ignorando o medo, longe do parasitismo.
José Mojica e Zé do Caixão trazem em si a filosofia da terra, mais especificamente do embaixo da terra. Fere o rosto dos que acreditam na imortalidade, daqueles que se entregaram de querer viver esta vida terrena para uma promessa de vida no céu.
Assistir aos filmes “A Meia Noite Eu Levarei a sua Alma” e “ Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver” é presenciar uma filosofia que vai contra com a boa moral e os bons costumes de nossas filosofias. Uma filosofia que reina no Reino da Terra. É o satanismo que trará força e vida. “Quem não aparece, desaparece” (1).
A dimensão é esta, criador e criatura, único no reino cinematográfico, em sua estética e valores.
É injusto afirmarem que José Mojica faz cinema B ou cine Trash. Por mais que estes tipos de cinema não sejam “adjetivos qualificadores”(sic), e sim, modos de se fazer cinema, o povo confunde com filme de 2ª. Sua “tecnologia alternativa”(2) com seu “staff com meia dúzia de gatos pingados”(2) construiu um universo, “a primeira religião cinematográfica”(1,2); é de se respeitar este gênio. Mas por enquanto o povo não vê isto e faz uma distinção medieval entre o bem (do qual teme) e o mal (do qual despreza).

Dois gênios do cinema que estão no mesmo primeiro degrau dos cineastas do mundo, todo o mundo viu!
Igual a Chaplin mas diferente Mojica lutou muito na vida, tomou muitos “Não”, foi perseguido, e hoje está vivo para reinar no Reino dos Céus !!! aHaHaHa AhAhAh ahahahahah!!!!

É certo que ao falar dos filmes de José Mojica eu me isento de definir os seus atos, o seu cinema, as suas idéias. Este relato que faço é um convite para conhecê-lo.

Tanto The Tramp como Zé do Caixão são personagens nobres, que buscam por uma relação ética. Agora seus modos são diferentes. Zé do Caixão é mais duro com as pessoas, O Vagabundo é mais suave, e ambos utilizam de certo sadismo.

O que há de comum é que em suas posturas nobres, fazem reflexões éticas à humanidade, com personagens marcantes e criativos ao longo de suas trajetórias no cinema.

(1) José Mojica Marins
(2) Décio Pignatari



Texto de Osodrack Navy

terça-feira, fevereiro 06, 2007

O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO




"Quem sou eu?
Não interessa!!!
Como tb não interessa quem é você!!
Ou melhor, não interessa quem somos,
Na realidade o que interessa saber é O QUE somos.
Não se dê o trabalho de pensar,
Porque a conclusão final seria a loucura, o final de tudo para o início do nada!
A coragem inicia onde o medo termina,
Ou o medo inicia onde a coragem termina.
Mas será que existem a coragem e o medo?
Coragem do quê?
Medo do quê?
Do tudo?
O que é o tudo?
Do nada?
O que é o nada?
A existência.
O que é a existência?
A morte.
O que é a morte?
Não seria a morte o início da vida?
Ou seria a vida o início da morte?
Você não viu nada...
E quer ver o tudo!
Viu o tudo,
Mas não viu nada!
Teme o que desconhece.
E enfrenta o que conhece.
Por que teme o que conhece e enfrenta o que desconhece?!
Sua mente confusa não sabe o que procura,
Porque o que procura confunde a sua mente!
E nasce o terror!: o terror da morte!!,
o terror da dor,
o terror do fantasma,
o terror do outro mundo!!
Agora, vendo o terror, nada é o terror.
Não existe o terror! No entanto o terror o aprisiona!
O que é o terror?
Você não aceita o terror porque o terror é VOCÊ!!!"


" De que vale o céu, o azul e o sol sempre a brilhar?
Se você não vem e eu estou a lhe esperar,
Só tenho você,
No meu pensamento.
E a tua ausência,
É todo o meu tormento...
Mas eu quero que você me aqueça neste inverno...
E que tudo mais, vá pro inferno!!

De que vale a minha, ou a vida de playboy.
Dentro do meu carro e a solidão que doí.
Onde quer que eu ande,
Tudo é tão triste...

Não, não posso mais, vc longe de mim.
Quero até morrer do que viver assim.
Só quero que vc me aqueça neste inverno.
E que tudo mais, vá pro inferno!!!

Uouuuu, uouuuu, E que tudo mais, vá pro inferno!!!

Uouuuu, E que tudo mais, vá pro inferno!!!

Uouuuu, E que tudo mais, vá pro inferno!!!

Uouuuu, E que tudo mais, vá pro inferno!!!

Uouuuu, E que tudo mais, vá pro inferno!!!

Uouuuu, E que tudo mais, vá pro inferno!!!
E que tudo mais, vá pro inferno!!!"

ahahahahahahahaha,AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH!!!

hahahahahahahahahahahah!!!

AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH.....


(José Mojica Marins, o Zé do Caixão & Roberto Carlos, no documentário de Ivan Cardoso "O Universo de Mojica Marins", 1978 ).

aguarde, irei escrever sobre o mojica e o filme "Esta Noite Encarnarei Em Teu Cadáver"

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Não é uma ficcção...

um dia, na piscina, estava eu parado com os braços apoiados na borda, cabeça deitada nos braços quando de relance vi uma formiga passeando pelo meu braço (as formigas são companheiras dos homens, ou nada somos para elas). Em seu passeio não havia perigo algum de me morder ( creio que elas não mordem porque devem conhecer o risco de morrer). (Pensar que temos milênios de convívio, impossível sermos nada para elas). ( Na verdade, acredito que elas não mordem por seguir seu instinto, e este não consta a relação presa/predador). O fato é que ela não morde. Enfim, deixei-a explorar este morro vivo, pulsante e quente, ora sumia de minha vista relanceira, ora aparecia farejando igual a um cachorro com suas anteninhas tocando a minha pele.
Deixe-a de meus olhos e continuei a deitar a cabeça, a pensar em tudo e em nada alternadamente, ora em tudo-nada, e ora no exercício pesado do nada-tudo.
Resolvi sair daquela estátua grega, e antes do movimento de músculos pensei: “Será que aquela formiga farejadora se encontra em meu braço?” Para responder esta pergunta, de súbito, o braço foi a água, num coice: “É isto que vamos ver!”
Olhei para a superfície da água e não a encontrei e, de repente ao fundo, no cume da curva cossena de meu braço na água, havia um ser se digladiando com o nada; suas pernas e braços pareciam um bebê chorando com todas as suas forças, a formiga estava condenada!
Olhei para o seu desespero. Pensei: “Coitada da formiga! Está ao fundo! Como luta para sobreviver, num mar misterioso e absoluto, abstrato e pulverizadamente concreto, onde a água baila abraçada a convidada ao som de um fúnebre ritual agônico”. E eu, igual a um urubu-Cabralina mobilizado, esperava o desfecho final, observando aquela luta perdida, dependendo dos poucos segundos que a vida reservara.
(sabe-se que a formiga é terráquea, que não ousa passar por um chão coberto de gotículas de água).
E lutava a desgraçada, como lutava... seus movimentos intensos não a movia daquela posição, do fundo da piscina. Assistia sua eutanásia: todo seu corpo remexia, sem cessar, perninhas todas juntas, tronco, cabeça também... E repentinamente, em minha cabeça passou uma onda cossena (agora para cima), onde meus olhos brilharam vendo aquela empatia de vida, vendo aquele seu clamor, aquele grito de socorro, aquele pedido desesperado de companheiros, aquela mendicância instintiva de um parente que pede para salvá-lo da bancarrota, aquele gesto de vida, a sua consciente comunicação, que me fez tentar de todos os modos salvá-la. Neurônios a e=m.c2 se conectavam a fórmula de salvaguarda, analisando o peso de minha companheira com a qualidade fluída e concreta da água. Não encontrei a solução precisa, e num ato intuitivo de quem já não podia mais esperar, o segundo já saído de sua última casa, fiz uma concha feito caçamba em volta da formiga e ela, devido a batalha travada entre Hades, Tétis, Chronos e Hera (em seu cruel arbítrio), escorreu para fora de minhas mãos.
Ao tentar novamente, já comovido pelo fracasso em minha alteridade, parei o braço e vi um redemoinho que se criou para cima e colocou a formiga para a superfície perto da borda. Minha razão se perdeu, como um desligar de televisão, e parece que algo fiz ainda que a guerreira alcançou a borda e se agarrou como que a vida fosse um gigante chorão, que para não se esvair ao abismo, se prendesse a uma folhinha de árvore. Minha surpresa foi tamanha que meus olhos grudaram em seus nervos de aço agarrado a superfície lisa da piscina. Minha razão se acendeu como o abrir de uma cortina de cinema e, minha amiga que renascia estava na superfície do ar com a água. Empurrei com o dedo a sua bundinha, certo de que suas reações a impossibilitaria de me castigar com a sua mordida, e ela pode enfim esquecer de sua vida.
Mas antes de seu habitual cotidiano, pude observar o susto e a alegria em seu corpo depois que retomou o piso quente de cerâmica maciça. Ela parecia que se tocava em suas partes dizendo “estou viva” numa explosão fina de adrenalina. E ela correu para o nada, numa linha reta para o horizonte, cada vez mais distante de sua casa. Era o final clássico e absolutamente real de um filme.
Fiquei ainda imaginando que ela iria contar sua experiência a suas amigas, a seu povo. Ela seria o fruto vivo e consciente de sua história, o início de uma nova era em seu formigueiro, o louco, o gênio, o desajustado, alegre, cantador e criativo, a qual um dia todos irão se lembrar...

terça-feira, janeiro 16, 2007

DESEMMIMMESMADO

Voltar a escrever,
a catar meus sentimentos como quem cava a água e retira à palma da mão,
a mentir e entregar estes versos ao anonimato,
a ceder ao pranto, à chuva fina na ilha verde
vista do continente, da areia da praia,
onde a bola voa, o copo vira e pessoas trabalham.
Ocupações, mentes, sensações, matutações,
adrenalina no sangue,
prazer na melancolia,
e o trabalho...o trabalho?!
Ocupações todas que fogem da certeza de estarmos a sós, em mim mesmo.
Reclamamos do trabalho (este prazer incompreendido)
para jogarmos bola, para virarmos copos,
e na ausência disto, reclamamos e pensamos no trabalho, nada desejado.
Medimos a hora de jogar, de beber para não ficarmos demasiados, a sós.
Passamos o dia na função de nos ocuparmos para que não fiquemos a sós.
E no jogo, temos que mostrar que somos bons em defender, em atacar, e liderar,
enfim, em alguma coisa. No beber, mostrar que sempre estamos no controle,
ou na alegria do meu "jeitão", ou na tristeza do meu "pleno e adulto controle".
Há um vazio a que não nos deixamos entregar, uma negação de que
viemos da terra e que voltaremos a ela. Não nos entregamos a este cosmo que
nos coloca no patamar nem superior, nem inferior da natureza. Na real,
nos coloca em patamar algum (porque não há patamar), e sim a certeza de que envelhecemos a cada dia.
Ao invés de sentir, ocupamo-nos com a mente funcionando intranquilamente.
Não experimentamos estarmos sob a ponte.
Parar e sentir a sua tridimensão.
Ansiedade, imediatismo, mente e tormento, flechas-siga,
passamos pela vida sem parar para sentir seu presente momento.
Seu precipício, a sua base de segurança, seu relevo, a fluidez do rio, seu retorno.
Ficar sozinho é algo que não sabemos o que É.

Neste momento, que inveja do homem do campo ("do caipira"), dos monges budistas.
E achava que suas vidas eram vazias ( diga-se: sem emoções),
do uísque 12 anos,
dos espetáculos de fim de semana,
só porque a não-ação (que concebo) na varanda do campo, é algo a mim inconcebível, impensável.
E agora me encontro pasmo,
porque vejo o caminho reto que construí, e que me arquitetou inflexível e deformado.
O que me desespera é que continuarei estando assim: Desemmimmesmado a todo momento. Talvez. E pergunto: Em que momentos eu estou em mim mesmo?

Mas não é por isto que existe a chuva,
não é para estarmos dentro das janelas,
nem para lubrificarmos nossos olhos, sentir o coração bater,
nem para refletir esta parede de prata que espelha nós mesmos,
deformados de nossas imagens e felizes ( negando a tristeza, proibindo-nos de sentí-la, como uma lei: é proibido sentir!),
a chuva nem é para derreter a alma, nem para remover o peso, nem para renovar o espírito.
Mas uma coisa ela é: Água!

Não me peça uma proposta! o caminho?
Mais uma vez, não procure imediatamente receitas da felicidade ( como psícologo, posso ajudar).
E a vida é o sagrado e o profano, a união dessas contradições, assim,
há muito em viver, inclusive em celebrarmos na roda das paixões o desemmimmesmadamente.

O trabalho é a aceitação da natureza. A pessoa que não trabalha, não a encontra, torna-se homem máquina de si mesmo, ignorante, e fica perdida.
O ponto a que chegamos com o trabalho é o ponto extremo de nossas forças, é o ponto do desprazer, da morte vivida, inconcebívelmente anunciada e velada. Este trabalho, (neo) capitalista está ancorada na negação do ócio, do descanso, do relaxamento, do sono, impossibilitando o prazer.
O prazer é a fonte de vida.

terça-feira, janeiro 02, 2007

A Pedra Fundamental

Minhas postagens irão começar...tenho em mente alguns assuntos, mas peço tempo.
está sendo excitante poder compartilhar pensamentos, impressões, críticas, com amigos e outras pessoas com olhares interessantes. "Universo em desencanto"... e encantando novamente, participar desta pulsação!!
Será um exercício gostoso, de exposição, onde aqui encontro uma ferramenta para trabalhar o auto-conhecimento e a comunicação de idéias.

Sejam bem vindos neste espaço. É a minha casa, e está livre para quaisquer comentários, elogios, críticas, sugestões. Enfatizo novamente: sinta-se a vontade, livre, para fazer os comentários. Livre!! Louvre para incendiar!! neste espaço.